PALAVRA EPISCOPAL
Bispo Luiz Vergílio
Presidente da 2ª Região Eclesiástica
Ação social no contexto do discipulado cristão
Marcos 9.33-37
A Igreja Metodista tem como dado de sua identidade denominacional, ao longo de sua história, o olhar missionário para com o ser humano considerando a sua integralidade física, psicoemocional, espiritual; em todas as suas relações sociais de convivência e de pertencimento. Esse dado tem sua expressão máxima nas próprias palavras de Jesus quando afirma: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância¹”. Constantemente vemos nos Evangelhos, Jesus preocupado em levar pessoas ao arrependimento e confissão dos seus pecados para salvação. De forma concomitante, manifestava preocupação para com a fome, o cansaço, a desconsideração com que as multidões, constituídas de pessoas empobrecidas, necessitadas e doentes sofriam. Essa ação transformadora de Jesus se constitui na referência para o discipulado cristão, cujo centro é a pessoa humana e suas circunstâncias.
Igreja comunidade de fé na sociedade humana
A busca da vontade de Deus, ou do caminho de santidade bíblica na tradição wesleyana, se reflete na prática de espiritualidade pessoal e comunitária, voltadas para a transformação das pessoas e da sociedade. Para Klaiber e Marquardt: “A comunidade cristã é, em dois sentidos, instrumento da ação divina no mundo: é uma formação (grupo) social, formado pelo Evangelho, o qual lhe é confiado e que deve determinar a vida comunitária desta entidade social; mas é também encarregada de anunciar a todos os homens (mulheres*) a mensagem do Evangelho sobre a reconciliação do mundo com Deus em Cristo²”. Esta percepção de identidade do metodismo caracteriza a comunidade de fé como protagonista de atos de piedade ou de espiritualidade e obras de misericórdia; pois, como afirma o Plano para Vida e Missão, “Missão e Santificação só podem gerar unidade”³.
O texto e o contexto
O texto referência de Marcos está entre duas situações significativas. Primeiro, ele é precedido pelo relato de uma discussão entre escribas e alguns discípulos de Jesus, cujo centro desta gira em torno de uma grave enfermidade pondo em risco a vida de um menino; de uma criança. A imagem da criança é, biblicamente, uma chave para o entendimento do Reino de amor, justiça, paz e alegria, anunciado pelos profetas e inaugurado por Cristo. A vida das crianças é sinal inconfundível do Reino de Deus entre nós. Assim, o discipulado cristão é protagonista de ações de libertação e de salvação de tudo quanto ameaça a vida, tratando o ser e alcançando-o com a Graça Preveniente de Deus em todas as dimensões de sua existência. Tanto a prática da oração, como exercício de espiritualidade, quanto o estender a mão para retirar a vida dos sinais de morte, como exercício da misericórdia, são ações indissociáveis no discipulado e na ação da comunidade de fé na sociedade humana, conforme o exemplo de Jesus. Assim, no texto referência o Evangelista Marcos trata da discussão estabelecida entre os discípulos sobre “quem é o maior?” Questão que, invariavelmente, trata sobre quem tem mais poder. Estas são questões cotidianas que, em muitos casos, colocam a relevância e importância dos interesses pessoais em detrimento às necessidades e prioridades de natureza coletiva e comunitária. Jesus, ao colocar uma criança no centro da discussão, demonstra que a ação social da Igreja está voltada para a defesa da vida, especialmente onde ela se apresenta em condições mais frágeis. Quem é maior é quem serve; e, se todos e todas estão a serviço do discipulado cristão no mundo, na implantação de seu Reino, então, não haverá nem maiores e nem menores. O texto seguinte trata da arrogância e da intolerância humana, fruto de nossa limitada visão da ação de Deus em relação às outras pessoas, especialmente quando estas não andam conforme os nossos passos. Jesus mostra aos seus discípulos e discípulas que o Seu nome não justifica nenhuma desagregação; pois, não há hierarquia de formas no exercício da missão, quando o protagonismo da Graça de Cristo se constitui em fator de salvação, libertação e comunhão.
Conclusão
O carisma pastoral sacerdotal e profético da comunidade de fé, através de ações de protagonismo evangélico na sociedade em que vivemos, deve estar prioritariamente voltado a serviço da vida humana, especialmente das crianças mais desassistidas,das pessoas mais fragilizadas socialmente, para as quais Deus tem um propósito salvífico de vida abundante, de bem-aventuranças e de comunhão permanente. Através de nossas comunidades locais e instituições sociais, realizamos nossa obra missionária de amor e serviço.
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¹ SBB – Edição Revista e Atualizada. Evangelho de João 10b, Ed. 1993 Barueri, SP.
² Klaiber, Walter&Marquardt Manfred – Viver a Graça de Deus – Um Compêndio de Teologia Metodista, Editeo, 1999, p.382.SBCampo, SP. *acréscimo pessoal.
³ Cânones 2012-2016, PVMI,p.80.
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