Introdução
Havendo chegado à conclusão de que o ser humano é pecador, sem possibilidade alguma de, por si mesmo, libertar-se do pecado e recuperar a comunhão com Deus que lhe seria possível em estado de pureza, somos agora levados à pergunta mais importante para a nossa vida: Como podemos nós ser salvos? A resposta está na própria Escritura: "Pela Graça de Deus sois salvos".
Textos bíblicos:
• Deuteronômio 30:15-20: diante da Graça de Deus, o ser humano não pode ser indiferente. A Graça exige uma resposta. No texto, o povo de Israel foi chamado a escolher entre a VIDA e a MORTE.
• Josué 24:19-24: Josué explica ao povo de Israel as duas opções: servir ao Senhor ou não. Após a escolha lhe restava arcar com as conseqüências dessa escolha.
• Salmo 119:30: o salmista declara sua escolha e decisão.
• Isaías 1:18-20: aí está o convite à Graça. Não há pecados horrendos que Deus não possa perdoar. Ele continua convidando ainda hoje à participação de sua graça e perdão.
• Ezequiel 18:30-32: Como um Pai amoroso, Deus se aflige com a perdição de sua criatura e apela para a conversão e a vida.
a - O Que é Graça de Deus? Quando se fala em graça de Deus tem-se, geralmente, a impressão de que é algo que Deus concede ao ser humano, uma realidade independente de Deus, uma força misteriosa, um poder extraordinário, que opera a salvação.
Todavia a graça de Deus não é nada mais que a disposição benevolente de Deus para com o ser humano, sua misericórdia posta em ação a favor do ser humano, exercendo-se de tal maneira que o ser humano possui agora uma possibilidade de ser salvo. Dizer "somos salvos pela graça de Deus", significa então que somos salvos pela misericórdia de Deus posta em ação a nosso favor.
De todas as coisas que a Bíblia revela aos homens e mulheres, nenhuma é tão única e importante como a existência em Deus de um tal espírito de misericórdia e amor para com o ser humano pecador. Deixados sem esta revelação, homem e mulher, não teriam certeza de coisa alguma. Se se considera como se desenvolveram as religiões nascidas da supertição humana, de sua observação dos fenômenos físicos e naturais (raios, trovões, seca, vulcões, etc.), se compreenderá muito facilmente como puderam surgir opiniões das mais variadas a respeito da divindade, que por se imaginá-la multiforme, na crença de muitos deuses, quer por julgá-la insensível às necessidades humanas ou sujeita aos caprichos da natureza do ser humano, podendo ora ser propícia, ora ser irritadiça, ora mesmo ser irada e desejosa de exterminar as suas criaturas.
Esse tipo de conceituação e pensamento ainda se é atribuida a Deus (Javé), na Bíblia, muitas vezes, até que Jesus Cristo surja e revele um Deus de amor e de bondade, cuja característica mais marcante é a de ser gracioso com os homens e mulheres, pronto a, por causa de sua graça, perdoar os pecadores e salvá-los de seus pecados.
E isto Ele o faz concretamente enviando o seu próprio e Unigênito Filho como redenção de toda a humanidade. É na cruz que vemos revelada de maneira mais notável, a maravilosa e salvadora graça de Deus.
b - A Motivação da Graça de Deus: Um ponto importante temos de levantar aqui: Por que motivo resolve Deus mostrar a sua graça? Qual a motivação que o leva a assim compadecer-se do ser humano pecador?
A resposta de muitos será que afinal Deus vê um valor no ser humano, sente que apesar dos seus pecados ele é digno de ser salvo porque possui em simesmo valor. Ou quem sabe, porque a sua situação de pecador não é de desgraça total, podendo através de seus esforços possuir o mérito de provocar a misericórdia de Deus.
Nenhuma dessas hipóteses, porém, é admitida por João Wesley. Para Wesley nada há no ser humano que possa alterar a posição de Deus a seu respeito. Seu coração é pecador e sua condição é de irremediavelmente perdido, uma vez que vive apenas para si mesmo. Os esforços nos quais se empenhe são totalmente egoistas, visando seu próprio benefício. Deus não é o centro de sua vida.
"A graça de Deus - diz Wesley - da qual nos vem a salvação, é gratuita em tudo e para todos. É gratuita a todos a quem é concedida. Não depende do poder ou mérito do ser humano, em nenhum grau, nem no todo, nem em parte. Do mesmo modo ela não depende das boas obras ou da retidão daquele que recebe, de coisa alguma que tenha feito ou que seja. Não depende dos seus esforços, dos seus sentimentos, bons desejos, bons propósitos ou intenções, pois todos estes fluem fa graça gratuita de Deus; são apenas a corrente, não a fonte. São os frutos da graça gratuita e não a raiz. Não são a causa mas os efeitos da mesma. Seja o que for de bom que haja no homem ou 1ue seja feito por ele, é Deus o autor e que o faz. Assim é a sua graça gratuita em tudo, isto é, não depende de nenhum poder ou mérito no homem, massomente em Deus, que nos deu gratuitamente o seu próprio Filho e "com Ele deu-nos gratuitamente todas as coisas".
c - A Universalidade da Graça de Deus: Mas terá Deus distribuido a sua graça com todos os seres humanos? É aqui que Wesley se torna mais enfático. Nem mesmo as doutrinas católico-romanas provocaram-lhe tão grande ira quanto a propagada idéia ao seu tempo de que Deus havia escolhido uns quantos para a salvação, deixando a grande maioria perecer nos seus próprios pecados.
A chamada doutrina da reprovação, a de que Deus não apenas não se importa com milhões, mas deliberadamente os predestinou à perdição, enchia Wesley de horror, que a considerava uma terrível blasfêmia contra Deus, pois o considerava injusto, cruel e mentiroso.
A graça de Deus estava aberta a todos os homens e mulheres. Não apenas aberta a todos mas presente em todos. Wesley acreditava que a Graça Salvadora (ou Preventiva, como ele a chamava) estava em atuação no coração de todos os seres humanos, ao lado de sua consciência, a própria presença de Deus em ação, por sua misericórdia, procurando levar o ser humano ao arrependimento: "Parece ser esta faculdade a que se referem usualmente aqueles que falam de consciência natural, expressão encontradiça amiúde em alguns dos nossos melhores autores, contudo não estritamente certa, pois, embora possa ser chamada natural, por achar-se em todos os homens, não é, todavia natural, propriamente falando-se, mas um don sobrenatural de Deus, acima de todos os seus dotes naturais".
Era esta graça universal a verdadeira boa nova do Evangelho, que anunciava a todos os homens e mulheres a salvação pela fé em Jesus Cristo. Wesley não a cria eficiente, isto é, ela não realizava a salvação, mas plenamente eficaz, suficiente e capaz para salvar a todos os que cressem.
d. Resposta à Graça de Deus: Colocada, porém, diante dos homens e mulheres a graça de Deus não lhes permitia uma situação de indiferença. ela era um desafio a que todos os homens e mulheres deveriam responder afirmativa ou negativamente. Responder indiferentemente era apenas outra maneira de repudiá-la, "apagando o Espírito", expressão que Wesley tomara emprestada à Escritura e usava constantemente.
A rejeição consciente da graça de Deus era na verdade, a escolha da perdição eterna, uma vez que não havia outra maneira de poder o ser humano alcançar a salvação.
Isto nos leva ao ponto de considerar se o ser humano pode ou não resistir à graça de Deus. É a graça de Deus irresistível como muitos acreditavam? Absolutamente, responderia Wesley. Não apenas o homem e mulher podem resistir à graça de Deus mas até mesmo destruir aquela graça divina que já está alojada em seu coração. Neste sentido negativo o ser humano é senhor absoluto de seu destino e capitão de sua própria salvação. E algumas vezes a graça de Deus opera de maneira irresistível, "como um relâmpago caindo dos céus", ele declara decisivamente que este não é o método usual da operação divina e que mesmo nestes casos esta irresistibilidade é passageira, dependendo finalmente do ser humano, como veremos no tópico Doutrina do Livre Arbítrio, a decisão final a respeito de sua salvação.
Ou como diz Santo Agostinho, que Wesley cita em um de seus sermões: "Qui fecit sine nobis, non salvabis nos sine nobis, "ou seja, "Aquele que nos fez sem nossa atuação não nos salvará sem nosso assentimento"(consentimento, concordância).
Obs.: As citações feitas de João Wesley foram retiradas da COLETÂNEA DA TEOLOGIA DE JOÃO WESLEY, de Burtner e Chiles, pág. 117 e 118 (1ª citação) e p. 152 (2ª citação).
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